Timidez: como o comportamento normal tornou-se uma doença

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Timidez: como o comportamento normal tornou-se uma doença
E não apenas por um impulso que comecei a levar a sério. Aceitar a timidez não foi uma reação a algo que estava me fazendo mal.

Com o tempo e até mesmo o sofrimento, eu observei que algo não fechava em tudo que jogavam para cima de mim.

Todos devemos sempre questionar até que ponto o julgamento de uns é a verdade de outros.

Cada vez mais (felizmente) encontro textos que discutem a mesma questão. A questão que por anos nos deixou encurralados. A mesma questão que eu questionei e você deveria começar a fazer também.

A Timidez não é uma doença.

Está cansativo seguir vendo as diversas postagens e muitos desabafos nas redes sociais sobre a timidez.

Mesmo que o inverso também esteja caminhando para conseguir um espaço, ainda prevalece o que tomaram por verdade.

Mesmo os que estudaram e que deveriam possuir o conhecimento. Não são poucos os diagnósticos de psicólogos, matérias em veículos especializados ou o básico conhecimento popular que quem sofre o 'mal 'da timidez deveria procurar uma cura.

Você realmente se sente doente? Ou é a falta de espaço para que se encaixe no mundo que conhecemos que o faz se sentir assim?


Através do incrível artigo de Joe Moran, eu desenvolvi parte do texto que podem ler agora. Ele foi muito feliz com as palavras e em sua análise sobre a timidez.

Ah se existisse o cuidado de valorizar também quem defende a timidez, assim como existe aos que a atacam.

Quem ganhou usando a Timidez como doença?

Timidez não tem lógica. Ela incide de formas aleatórias em determinadas áreas de sua vida e não de outros. Alguns podem achar que falar em público é o maior temor social, por exemplo.

Até mesmo escrever sobre a timidez é difícil. Por sua natureza, é um estado subjetivo, nebuloso que deixa pouca coisa concreta por trás.

Não é por menos que encontramos tão pouca história sobre a timidez. E acho que fica óbvia a razão disso. Muitas podem ter se sentido desconfortáveis para falar ou escrever sobre ela.

E quase tudo que encontramos por aí, todo o rico material sobre pessoas tímidas é justamente vindo daqueles que não o são. As ações para denegrir o comportamento de tímidos ficou enraizado na maior parte das pessoas.

Para Charles Darwin, este "estranho estado de espírito 'foi um dos grandes quebra-cabeças em sua teoria da evolução, pois ela parecia oferecer nenhum benefício para a nossa espécie. No entanto, em pesquisa iniciada na década de 1970, o psicólogo Jerome Kagan Harvard sugeriu que cerca de 10-15 por cento das crianças "nascem tímidas". Reagiram a situações levemente estressantes com um batimento cardíaco rápido e níveis mais elevados de cortisol no sangue.
Por volta da mesma época, a comportamentalista de animais americano Stephen Suomi, trabalhando em um centro de animais em Poolesville, Maryland, observou-se uma porcentagem similar de timidez em macacos, com o mesmo aumento da frequência cardíaca e aumento do cortisol no sangue. Exames de sangue em macacos infantis tímidos com mães de fora, sugeriu que este traço tímido era hereditário. O trabalho de Suomi também inadvertidamente apontou para a utilidade evolucionária da timidez. Quando um buraco surgiu no local onde eles ficavam, deu aos macacos uma chance de sair, os tímidos ficaram onde estavam, enquanto os mais ousados ​​escaparam, apenas para serem atropelados por um caminhão quando tentavam atravessar a estrada.
Timidez é uma "emoção secundária". Ao contrário de emoções primárias, como raiva, medo e nojo - onde há um grande componente biológico e universalmente sentida - a timidez é 'ajustado pela experiência', deixando-o aberto para uma enorme quantidade de condicionamento cultural, variação histórica e ambiguidade de definição.

A timidez, assim como outros traços de personalidade incomuns, foi vista como uma aflição a ser tratada medicamente, e não como um estado temperamental.

O psicólogo Philip Zimbardo passou a realizar diversos tipos de testes nos anos 70. E mesmo em suas pesquisas apontando que era comum o sentimento da maioria das pessoas em serem ou se sentirem tímidas, acabou se tornando pioneiro na tendência moderna de ver a timidez como uma patologia remediável.

Assim, diversos métodos para combater a timidez foram desenvolvidos. E também suas escalas e derivações. Entre 1981 e 82, a timidez extrema agora era um tipo de 'transtorno de ansiedade social' e drogas como Seroxat (ou Paxil) foram desenvolvidas para tratá-la.

Para quem não sabe, Seroxat é um dos antidepressivos mais prescritos em todo o mundo, funciona como Prozac, aumentando os níveis cerebrais de serotonina (responsável diretamente pelo estado de ânimo e emoções nas pessoas).

Foi bem conveniente a esse lado da medicina e também farmacêutico em transformar traços normais de personalidade em transtornos psiquiátricos que os medicamentos deveriam eliminar.
Já em 1999, observando que o número de pessoas que se consideravam tímidas continuavam a aumentar, Zimbardo alegou que essa nova era de computadores, email, menos interação social, substituição de pessoas por máquinas com a automatização etc estavam contribuindo para o que agora era já uma "epidemia" de timidez. E não mais existia um problema individual e sim uma "doença" social.
Com pouca justificação científica, inúmeras emoções e sentimentos passaram a fazer parte das desordens psiquiátricas e, logo, passíveis de serem tratadas com psicotrópico.

Então “diagnosticar” tornou-se um negócio altamente rentável, cuja subvenção é garantida pelos gigantes da indústria farmacêutica apoiados pela Administração de alimentos e drogas norte-americana, com a conivência das Universidades, e a cumplicidade da mídia que conta com o poder persuasivo das agencias de publicidade.

A história da psiquiatria foi radicalmente reescrita, o transtorno de ansiedade social, “patologia” vedete nos Estados Unidos, é um dos exemplos de como uma doença tem que ser criada antes que um medicamento que se lhe aplique seja lançado no mercado.

O DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) utilizado em todo mundo graças à Organização Mundial de Saúde, transformou, em 30 anos, emoções banais em doenças mentais permitindo a rentabilização de moléculas inúteis.

Timidez é um comportamento normal

Isso poderia até ser considerado uma teoria da conspiração se não fosse tão óbvio. E como um assunto puxa o outro, pude encontrar entrevistas e informações maiores sobre tudo dito aqui. Christopher Lane publicou exatamente o livro cujo título destaquei no post.

Será que mesmo após ler tudo isso você ainda vai achar que possui um grande defeito? Tem certeza que o sentimento vem de você?

O autor deu uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em 2008, a seguir destaco 3 perguntas e as respostas para sua absorção e conscientização.

FOLHA - Como define a timidez?
CHRISTOPHER LANE - Eu a definiria como uma forma de consciência de si, às vezes excessiva, que pode resultar em hesitação, atitude estranha e embaraço. É um traço psicológico bem difundido, existindo em cerca de 50% da população. Não é um transtorno psiquiátrico. A timidez tende a variar enormemente de acordo com o temperamento, a idade e a situação -pessoas gregárias podem ficar tímidas no primeiro encontro com estranhos, e crianças e adolescentes podem se tornar tímidas em idades de mais autoconsciência.

FOLHA - Essa atitude do consumidor reflete a mudança cultural que recomenda a postura agressiva do mundo dos negócios?
LANE - É a pressão para ser extrovertido. Há menos ênfase em introspecção, reflexão, escutar e absorver informações. Como resultado, a ideia de "normal" mudou muito e se estreitou demais. O ideal de extroversão torna-se uma exigência. E quem não é extrovertido se sente estranho, carente de alguma cura. A indústria deveria aliviar o sofrimento, mas gera um novo sofrer.

FOLHA - As crianças precisam da timidez assim como da dúvida?
LANE - Não digo que precisam, mas não devem se sentir doentes por a sentirem. As pessoas têm excentricidades, isso é parte da humanidade. As pessoas são mais felizes quando podem se expressar como são. Um psiquiatra que não tolera as diferenças é arrogante

Se você gasta tanto tempo tentando mudar seu jeito de ser, talvez devesse usar o mesmo para aprender mais sobre ele. 
Ser tímido é completamente normal, você precisa se dar conta disso e aceitar. Se depois do conhecimento, ainda assim precisar de algum tipo de ajuda ou tratamento, deve sim correr atrás e buscar o melhor para você.

Apenas deixe que essa reação sua a timidez realmente seja algo interiorizado seu. E não apenas seus anseios e dificuldades sofridas durante a vida e implicadas pelo que os outros causaram.

Entenda a timidez e seu comportamento. Seja feliz com o que você tem.

3 comentários

  1. Eu estou cansada de ser considerada doente porque sou timida, já fiz até terapia para "melhorar".

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  2. Não somos doentes!Só mal compreendidos!

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  3. Exatamente. Apenas mal compreendidos. E como!

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